O que são e quais são os venenos da mente?
Lama Tsering
Os venenos da mente são divididos em três
categorias principais.
A primeira é o apego ou desejo, que inclui o ficar preso
física ou mentalmente a pessoas, objetos e fenômenos.
A segunda é a raiva, que
significa rejeitar, não querer, afastar algo de você.
A terceira é a
ignorância, que significa não ter uma noção clara da vida, não compreender a
natureza verdadeira das coisas.
Estes venenos agem de maneira interdependente. O que ocorre é que,
quando não temos uma visão real da vida, acabamos criando desejos e apegos. E
quando não conseguimos o que queremos, criamos aversão e ficamos com raiva.
Os venenos da mente agem como toxinas, criando energias mentais
negativas. Estas energias são expressas em nossas ações, palavras e
pensamentos, causando um sofrimento cíclico, em cadeia, que se repete
infinitamente.
A estes venenos mentais podemos adicionar o orgulho e a inveja. Suas combinações
vão ficando cada vez mais sofisticadas e representam as diferentes formas
errôneas com que nossa mente pode atuar.
A raiva é o veneno mais grosseiro e o que traz as conseqüências mais
terríveis, cruas e diretas. O desejo é mais sutil e, em nossa sociedade atual,
é até mesmo considerado uma coisa boa, apesar de trazer tanto sofrimento. Mas o
veneno fundamental, realmente, é a ignorância, é o não reconhecimento da
natureza verdadeira dos fenômenos. Não podemos dizer que a ignorância seja o
pior veneno, mas ele é o primeiro, o que dá origem a todos os outros.
‘revelar-se’
Há várias formas para começar a lidar com nossos venenos mentais. A
primeira coisa a ser feita é reeducar-nos, no sentido de nos revelarmos, de identificarmos
os venenos em nossa própria mente, suas conseqüências e o que podemos esperar
deles.
Parece óbvio dizer que temos que nos reeducar, mas não é. Por exemplo,
achamos que é OK ficar com raiva quando alguém faz algo errado conosco, nos
fere, é injusto. E não é OK. A raiva é um veneno mental e produz experiências
dolorosas para quem a sente, não importando se o motivo que a tenha criado seja
"aparentemente justificável".
Você tem que ser educado para saber que não deve tomar veneno de rato,
por exemplo. Se você entender isso, vai saber que se tomar veneno de rato,
ainda que o gosto seja doce, sofrerá um dano imenso.
Os venenos da mente agem como um bumerangue. Se você atirar sua raiva
adiante, o que você vai receber de volta é mais raiva. Nós não compreendemos
que nossas ações, palavras e pensamentos são como bumerangues, e não como uma
bola, que jogamos em direção a alguém e lá ela fica. O bumerangue é atirado
adiante e ele volta.
Quando não entendemos essa regra básica, nos tornamos nossas próprias
vítimas e, feridos e ignorantes, jogamos o bumerangue de volta, causando
sofrimento atrás de sofrimento.
O importante é termos paciência,
mantermos a serenidade, mesmo quando momentos difíceis acontecem, porque estes
momentos são resultado de bumerangues lançados por nós mesmos, anteriormente.
Se um bumerangue estiver voltando, aceite-o, tenha paciência, deixe que ele
caia. Não atire mais três ou quatro de volta, porque eles também vão voltar.
Realmente precisamos é cortar esses venenos. E isto conseguimos fazer
através da meditação. Mas, enquanto não desenvolvermos estas técnicas de
contemplação e meditação, precisamos evitar a raiva. Se ainda não tivermos os
meios hábeis para lidar com a situação, é melhor correr do que reagir. Ou
talvez você deva segurar sua respiração por um instante e esperar a raiva
passar.
Quando
você estiver um pouco mais treinado, talvez não precise correr nem prender a
respiração, e consiga converter a situação negativa em amor e compaixão. Talvez consiga transformar a raiva, lembrando-se de que todos querem ser
felizes e as pessoas fazem o que fazem porque acham que aquilo trará
felicidade. Ao lembrar-se disso, pode cultivar a compaixão e ver que você e
aquela pessoa não são diferentes: você já agiu raivosamente antes porque achava
que aquilo o faria feliz. E, compassivo pelo fato de que aquela pessoa não sabe
das conseqüências que a raiva traz, você converte sua emoção negativa em
emoções positivas, como amor e compaixão.
E mais tarde, quando você já estiver
ainda mais treinado, poderá não apenas converter o negativo em positivo, mas
liberar as emoções negativas em sua própria essência, cuja natureza é a
perfeição. Grandes mestres e praticantes lidam com sua raiva dessa forma. A
raiva ocorre, mas ela é livre, assim como as nuvens, que ocorrem mas dançam
livres no céu.