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terça-feira, 15 de agosto de 2017

NATUREZA NATURAL

Agradeço a oportunidade de estar aqui e poder falar um pouco com vocês a respeito de temas que para nós são importantes e que podem de alguma forma contribuir para que nós possamos viver de forma mais leve e mais feliz...
Hoje eu quero falar com vocês a respeito de experiências que eu tive com relação ao ensinamento, uns ‘insights do óbvio’ que andei tendo e que para mim, apesar de serem tão óbvios foram libertadores daquilo que estava me afligindo naquele momento. É isso que eu quero compartilhar com vocês.
Na última palestra nós falamos sobre ‘estar no rumo da paz e da harmonia’, quer dizer, se a pessoa ainda não está vivendo nesse lugar de paz e harmonia, como ela poderia fazer para chegar lá. Vou relembrar alguns pontos para podermos alinhavar a continuidade do que eu quero falar...
Falamos entre outras coisas que, na verdade, só é possível viver na paz e harmonia, se a pessoa conseguir sair do ciclo do prazer e da dor.
É o ciclo a que nós estamos submetidos como seres humanizados. Justamente por acreditarmos no nosso ego, por acreditarmos nas verdades e realidades criadas pelo nosso ego, nós entramos neste ciclo do prazer e da dor. Quando a vida vai de acordo com o que nós queremos, nós nos sentimos felizes; e quando vai contra a gente sofre...
Então, é sair deste ciclo e se libertar daquilo que mantém a pessoa presa na materialidade _ o        querer ganhar, o buscar o prazer, o querer o reconhecimento, o precisar do elogio _ deixar de viver preso nessa dinâmica do egoísmo ( apesar de reconhecer o egoísmo como sendo o traço característico da nossa fisicalidade, da nossa humanidade).
Ai a gente falou que se a pessoa fosse se libertando das amarras destas situações, ela poderia passar a viver estas mesmas situações mas em equanimidade, quer dizer, de uma forma equânime, sem estar sofrendo nas pontas do prazer e da dor...quer dizer sofrendo sem sofrer... e ai ela poderia conhecer a verdadeira felicidade, que é viver o que seja em paz, em harmonia.
Bom, a partir do dia em que eu fiz esta palestra e estas colocações, parecendo até um desafio, ou talvez até porque eu tenha colocado mais consciência sobre o tema, eu comecei a viver uma fase de grandes desafios justamente em relação a estes tópicos. Parece que começou a existir em mim um prazer em viver enroscada no ciclo do prazer e da dor.
Algo em mim parece que dizia ‘sim, eu sou egoísta, eu sou humana...e é isso que eu tenho prá viver...não é possível viver sem querer ganhar, sem querer que as coisas sejam do jeito que a gente quer....que a gente considera certo’...
Por mais que eu tivesse consciência de que não fosse isso, de que a vida apresenta o que ela tem que apresentar, mais eu me sentia presa a essas sensações, assustada, com medo que a vida apresentasse algo que eu não queria viver naquele momento...
Mesmo eu racionalizando o ensinamento, buscando trazer prá consciência que ‘tudo é perfeito do jeito que tem que ser’, mesmo assim meu coração estava apertado, meu estado de espirito era de angústia, bem distante da tal equanimidade diante das coisas...
E quanto mais eu dava espaço prá este estado de espirito permanecer em mim, mais ele ia se ampliando dentro de mim!
Sem que eu percebesse, naquele momento, que meu estado de espirito diante das coisas poderia ser alterado.
Eu me criticava e me perguntava: ‘por que ficar falando em sair do ciclo do prazer e da dor, em sair do egoísmo, em sair do querer ganhar, do ter razão, em sair do querer que a vida se desenvolva do jeito que eu considero bom, se o ser humano não pode mudar nada em si?? Me perguntava de que  adianta ficar falando disso, estudando, ficar preocupada com isso?
Parecia que não era possível seguir este ensinamento...
Aí eu comecei a achar esta história de equanimidade a coisa mais chata...como na história da raposa dizendo que as uvas estavam verdes, eu também comecei a achar a equanimidade uma coisa muito sem graça...justamente porque estava difícil para mim, viver, ainda que minimamente, a tal equanimidade...
E assim foi ficando até surgir o convite para fazer esta palestra...e ai me veio uma crise de não ter o que falar...pois se eu estava vivendo sentimentos ou que seja, sensações, de egoísmo, de questionamentos.... a respeito do que eu poderia falar??
Então eu vi que seria exatamente sobre isso...sobre como eu estava vivendo a contrariedade, a vicissitude, a alternância, que na verdade é a própria vida.
E ai eu comecei a destrinchar alguns estudos... mexer meu caldeirão....prá procurar entender melhor....prá pegar aquele ponto em que eu me encontrava em conflito  e tentar expandir a compreensão dele à luz do ensinamento....botar luz.....trazer lucidez....pra discernir melhor...
E eu vi que esta é uma dinâmica muito boa...que pode auxiliar bastante a gente a chegar num discernimento.
Então eu vi.....
O ensinamento propunha: assistir a vida....tudo bem...tô vendo....; ver o sofrimento....tudo bem; ver o prazer....tudo bem; assistir o querer ganhar, o ter razão.....tudo bem.....
Mas e o espirito de equanimidade diante de tudo?? Este estava muito difícil...parece até que de fato eu não queria me sentir equânime...o que eu queria mesmo é ir prás pontas...prá gangorra do sobe e desce....
Porque no sobe há prazer...mas parece que até no desce, no sofrimento, também há prazer...porque a pessoa parece até que quer ficar lá....sofrendo...
Aí, continuando a mexer o caldeirão... da vida...dos ensinamentos...me veio uma compreensão de  que só seria possível o estado de espirito de equanimidade para uma pessoa que tivesse fé!
Fé em Deus como causa primária de todas as coisas.
Fé em que tudo o que a vida propõe está certo porque está dentro da ordem divina.
Fé em que tudo são provas para a evolução do espirito...
Enfim...parecia que era preciso ter muita fé...
E quem não tivesse tanta fé? Não seria permitido a ele viver o estado de espirito de equanimidade??
Ai eu comecei a me relacionar com a fé e perguntar o que ela pedia...porque prá pessoa ter fé, é preciso que ela atenda aquilo que a fé pede dela...
E aí eu vi.....
A fé pede aceitação, entrega, confiança, integração (some o eu que se integra na fé), abertura, acreditar ou seja dar crédito....tudo isso dado a algo que a gente não sabe o que é....não se pode definir....não se pode conhecer....
E ai surgiu um medo...
Um medo dessa entrega incondicional a algo desconhecido.
Fui então falar com meu medo e ele me disse que eu sentia medo porque:
eu não queria ser impotente diante da vida....quando de fato eu não controlo nada, quando de fato eu não tenho nenhum poder sobre a vida...
eu não queria NÃO saber...quando de fato eu nada sei....
eu não queria me diluir....quando de fato nem existo...
eu não queria assim uma entrega incondicional....quando de fato está entrega já está...
eu não queria perder um pretenso domínio...me sujeitar a algo que não sei....
eu não queria ter uma confiança cega....
eu não queria sair da zona de conforto do conhecido.....
na verdade, eu não queria viver o natural que é o que é...porque eu queria viver o ideal...que é aquilo que eu queria que fosse...
E aí vi ...
Que dessa situação surgia em mim:
Uma grosseria prá me defender...                                                       
Um retraimento prá me proteger...
Um estresse prá me manter...
Um fechamento prá vida...
E ai veio um grande insight prá mim....um insight do óbvio...foi a consciência de que tudo o que eu tenho prá fazer e tudo o que eu posso fazer é me abrir prá vida que está, me relacionar, me harmonizar com o que de fato está aqui e agora...
Aí eu não preciso fé...não preciso nada...
Se eu me relacionar com o aqui e agora, sem interpretar, sem julgar, sem comentar, sem analisar....só com o que está.... e conseguir me harmonizar com isso....isso traz um estado de serenidade e concórdia... e pode resultar no estado de espirito de equanimidade diante de tudo....
No aqui e agora não tem emoção...o aqui e agora é o que é.... sem adjetivos...nós é que qualificamos a cada instante...
O que é....O que está....É tudo o que existe....É só o que existe a cada agora...
Então não interessa se é o melhor ou o pior prá mim...se foi Deus causa primária quem gerou....se são provas para a evolução do espirito....
O que interessa é que aquilo que eu estou vivendo é o que é...é o que eu tenho pra viver...se eu tenho fé ou não tenho, também não interessa...tudo o que eu preciso ‘SÓ’ é me integrar ao que está! Me harmonizar com os pensamentos a respeito daquilo que está...entrar em equilíbrio...aceitar o que está...do jeito que vier...
Perceber que A FORMA como eu estou qualificando aquele aqui e agora é o que pode estar me levando ao sofrimento...
E eu posso optar por permanecer sofrendo ou sair do sofrimento...
Perceber que o que está gerando o meu sofrimento é o meu querer, são os meus desejos...minhas posses: eu sei...quero que seja deste jeito....assim é o certo....eu gosto disto desta forma, eu não gosto... eu julgo, eu critico...
Parece assim que na hora do ato existe aquele impacto...mas ai eu posso  conscientemente procurar me relacionar ESTRITAMENTE com o que está e perceber que no que está não tem adjetivos...não tem qualificação...
Eu posso não acreditar no falatório do ego...
Eu posso escolher dar alimento pro sofrimento, pro egoísmo....ou deixar ele morrer de inanição...optando por me harmonizar com meus pensamentos sobre o que está!
Então harmonizar é entra em equilíbrio...RETOMAR O EQUILIBIRIO NATURAL!
Quando eu pensei isto, me veio outro insight...uma consciência de que  há um equilíbrio natural....uma felicidade natural....um estado de amor natural...natural?? É! Natural...um estado de amor que é nato....que é próprio do ser universal...e ele é interrompido pelo estado de sofrimento que é criado pela mente, pela qualificação do que acontece....
E então eu vi....como uma imersão num oceano...ESTA É A NOSSA NATUREZA NATURAL...UMA NATUREZA AMOROSA...
E eu pude perceber que para o estado natural se manifestar não é preciso fazer nada!
É só não bloquear...
É só abrir a camisa de força que nos mantém presos no julgamento, na critica, na expectativa...e permitirmos nos inundar com esse campo de força amorosa que brota de dentro de nós mesmos....de todos e de cada um....
E esta NATUREZA NATURAL amorosa ESTÁ SEMPRE NO AQUI E AGORA!
Então ficou muito forte a idéia de me libertar do ideal prá permitir o natural....
Compreender que o ideal não está no mundo da realidade, mas no mundo das probabilidades....então ele não tem ação na vida, a não ser a de nos tirar fora da vida....prá nos tirar fora da nossa natureza natural!! Então na realidade parece que não há o que temer, porque o ideal não existe!
Lembrar que a couraça que nos isola desta nossa natureza natural é a couraça feita por aquele ‘advogado interno’ que pretensamente diz que sabe o que é o melhor prá nós e entra em nossa vida querendo determinar as nossas ações, os nossos objetivos, dizendo o que é certo e o que é errado em todas as áreas de nossa vida.... e nos isolando de nós mesmos....da nossa natureza natural....amorosa...
Trazendo o medo da gente se jogar nesta corrente....
Mas aí, nós podemos nos lembrar que não precisamos fazer nada....só permitir, não bloquear quando ela se apresenta em nós....porque esta natureza se apresenta...
É só aceitar e se entregar neste fluxo natural....vivo....espontâneo...que quando a gente se abre prá ele...ele começa a pingar e depois a jorrar em nós...
É nós permitirmos a nossa integração....a nossa dissolução...porque ai some o eu... ele se integra ao todo através dessa corrente...
E essa natureza amorosa, ela nos aceita como nós somos...e aceita a tudo como parte desse fluxo...aceita a tudo e a todos como são...
É nós acreditarmos...darmos crédito...e nos entregarmos prá experimentar...
É nós nos permitirmos sermos naturais, como nós somos, sem máscaras....nus....sem a roupagem da expectativa....do julgamento....da critica....do querer....do poder....
De fato é nos abrirmos e mergulharmos dentro da nossa natureza amorosa...
Vou oferecer para vocês uma canção que me tocou muito quando eu ouvi...mais além da forma, do conteúdo das palavras...vibrou amorosamente em mim... e é um convite prá quem ouve se abrir ao amor.... então quero compartilhar com vocês oferecendo praqueles que quiserem se abrir prá esta natureza amorosa em si....
Salve o amor e a alegria!
Procurar se aproximar de frequências que ressoem de forma amorosa pode ajudar a gente a abrir este canal...
Experiências mostram que se colocarmos dois instrumentos musicais com a mesma afinação, um diante do outro, quando um tocar o outro vai vibrar na mesma frequência....pela ressonância...
Então, a gente se ligar á frequência da alegria...eu acredito que ela pode nos alimentar e vai facilitando o retomar à nossa natureza natural...
A alegria, a celebração.....celebrar a vida...perceber que tudo o que nós temos é a nossa vida prá viver.... e procurar viver esta vida com mais leveza...
Talvez cantando um pouco mais....talvez dançando um pouco mais...
Procurando não interromper o fluxo natural da harmonia que é nosso...que jorra dentro de nós mesmos...porque ele é natural...
E se ele é harmonia...ele flui na justa proporção....na proporção correta em cada ser.... é um FLUXO DE CONCÓRDIA porque harmonia é concórdia entre as partes... CONCÓRDIA É ACEITAÇÃO....É ESTAR DE ACORDO... são as partes que formam o nosso ser em acordo...em concórdia...em harmonia...é o nosso pensamento...nosso sentimento....nossa ação....se alinhando no mesmo fluxo de concórdia...
E disso surge o que?
Este estado de espirito de harmonia traz a GRANDE CURA...quando as coisas entram na ‘justa proporção’ elas se harmonizam....e dão espaço para o amor.
Na ‘justa proporção’...não é num extremo nem no outro...é na justa proporção.
Este estado de espirito amoroso ele traz uma paciência e uma mansidão consigo mesmo e consequentemente com tudo....na aceitação.
Quando você permite que este fluxo amoroso flua, você ama a tudo...ama o universo, o todo...tudo é amor...porque tudo ele integra...
E ai eu vi...
QUE A LUZ É PRÁ CLAREAR... PRÁ TRAZER LUCIDEZ...DISCERNIMENTO...
E O AMOR É PRÁ INTEGRAR....SE DISSOLVER E VIRAR UM...
Não é só viver a vida que nós temos prá viver...mas é permitir esse fluxo universal...
E prá isso não se precisa fazer nada...é só deixar de impedir prá que ele surja naturalmente...porque é da nossa natureza..
Então AMAR É VIVER HARMONICAMENTE COM TODAS AS COISAS DO AQUI E AGORA, QUAISQUER QUE ELAS SEJAM...
É soltar as ilusões do nosso ego que dizem isso e aquilo...não acreditar nelas...porque tudo o que está sempre acontecendo por detrás, é a nossa natureza natural amando!!!
Prá isso é preciso a gente mudar A FORMA de tratar as coisas do mundo... as pessoas, os objetos, os acontecimentos...ao invés de viver aprisionado aos valores criados pelo ego, conviver dentro das características amorosas que tudo possui.
E compreender que AMAR ....esse é o elo que interliga todas as coisas....todos os seres...tudo no universo...
Esse é o estado natural do ser universalizado....do ser integrado...
E o que nos cabe fazer?
Permitir que o fluxo natural do amor jorre naturalmente... inicialmente abrindo uma brecha pequena...que começa a fluir.... e assim como um córrego vai aumentando o seu fluxo ao vencer obstáculos em seu caminho....também essa abertura prá natureza amorosa que é natural em nós....se não for bloqueada, poderá jorrar cada vez mais natural e abundantemente...em cada um...
Tem uma imagem que interessante que sempre podemos lembrar...no canal do panamá tem uma diferença de nível entre o oceano atlântico e o oceano pacifico. Para um navio fazer a travessia de um para o outro, ele precisa entrar numa eclusa e aguardar que o nível da água suba até que atinja o mesmo nível do oceano que está do outro lado, fora da eclusa...ai a eclusa é aberta e o navio sai, sem esforço, naturalmente, sem nem perceber.... mas foi preciso um tempo de acúmulo da água...
Ou seja, estamos no oceano do egoísmo...entramos na eclusa e vamos acumulando  as condições que favoreçam a nossa natureza natural de Luz e Amor...sem expectativas nem interesses...de repente abre-se a comporta da eclusa e naturalmente a passagem é feita...fruto de tudo o que foi acumulado em seu interior....
É só deixar que a nossa natureza natural amorosa venha nos permeando...
E agora quero oferecer um canto para vocês...
FIRMEZA
transcrição literal de palestra de Hanna (Annamaria Pires) . final 2010



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